Maria Auxiliadora
LOPES, Amanda Cristina Teagno. Educação Infantil e registro de Práticas.
Ed. Cortez, 2009.
A obra intitulada
Educação Infantil e registro de Práticas, de autoria de Amanda Cristina Teagno
Lopes, destinada à formação docente traz um diálogo entre autores que tratam do
tema registro. Para tais autores os registros são importantes instrumentos para
análise do pensamento do professor, pois ao narrar sua prática o professor
expõe seu pensamento, reflete sobre sua prática e busca um sentido para a ação
cotidiana em sala de aula integrando seu pessoal e seu profissional em sua
narrativa, ainda quando podendo lançar mão de seus registros para analisar seu
grupo rever suas ações passa pela subjetividade do professor não se tratando
apenas de uma narrativa das ações pedagógicas deste, mas, também, de uma
reflexão sobre suas ações. Compreendem que os registros abrangem uma ampla gama
de documentos que incluem diários, relatos, portfólios, etc, todavia reconhecem
que não se restringirem a eles. Sendo assim, os autores participantes do
diálogo em questão tratam das diversas formas com as quais os professores
registram seu cotidiano em sala de aula e nos fazem perceber que a narrativa do
professor contém em si suas impressões e observações e tornam-se a teorização
de sua prática. A autora ainda chama a atenção para o privilégio que os
docentes dispensam ao registro escrito, cita as imagens que falam sem utilizar
as palavras e nos fazem refletir sobre o desenho como forma privilegiada de
expressão das crianças antes da aquisição do código escrito, configurando o
desenho como uma forma de registro.
À medida que a autora
avança na produção de sua obra, reflete acerca do que contém os registros dos
professores que atuam com as crianças pequenas em instituições de educação
infantil, considerando que o Referencial Curricular para a Educação Infantil
(Brasil/MEC, 1988) reconhecendo as peculariedades da educação de crianças
menores de 6 anos aponta a observação e o registro como instrumentos essenciais
ao processo de avaliação da aprendizagem e do desenvolvimento, situa o registro
como elemento imprescindível ao trabalho com a educação infantil. A autora faz
um relato sobre a história da educação infantil tendo como cenário o estado de
São Paulo, trazendo aos leitores informações sobre o que pensavam os
profissionais da época, suas concepções sobre a infância e a criança e suas
formas de registro, enfatizando o caráter assistencialista e recreativo da
educação infantil. Na quase inexistência de registros produzidos pelas
professoras que atuaram na educação infantil, a autora situou sua análise na Revista do Jardim de Infância e nos boletins internos da Divisão de
Educação, Assistência e Recreio e ainda nos relatórios
anuais sobre os parques infantis. A referida revista, segundo Gabriel
Prestes, visava a “tornar conhecidos os
processos empregados em tais instituições de ensino e reunir os elementos
artísticos necessários à organização do ensino infantil pelo sistema froebeliano”
(revista do Jardim de Infância, 1896, p. 5).
Os relatórios aparecem
sob a forma de dados estatísticos e quantitativos direcionados à questão da
recreação e da saúde dos educandos. Cabe lembrar que estes eram temas centrais
nas propostas das instituições de educação infantil aqui denominados parques
infantis. Os boletins internos
destinavam-se a publicações de comunicados, notícias sobre eventos, e
acontecimentos, ou seja, à comunicação interna das instituições. Seguindo
em sua narrativa, a autora faz considerações sobre o papel do registro no contexto
do movimento escola novista e identifica nesse momento uma maior atenção
dirigida à formação de professores onde ao lado das escolas normais são criadas
escolas complementares encarregadas da formação de professores. O ideário da
época era a educação como alavanca para o progresso da nação. Uma educação
pautada no cientificismo sem considerar as impressões e reflexões das
profissionais que atuavam na educação infantil. Considerando que os registros
são a memória dos que viveram em certa época, não produzí-los ou relega-los a
um plano inferior pode representar um hiato na construção da memória coletiva
de uma sociedade. Fato que pode estar ligado ao detrimento da figura do
professor em relação ao conhecimento cientificamente produzido. A autora apresenta
o registro de suas práticas durante o período de 2000 a 2003 e o que observamos
é que a prática do registro pode leva-la a analisar, refletir, repensar sua
prática cotidiano levando-a um aprimoramento profissional e consequente
melhoria da qualidade de seu trabalho junto às crianças da educação infantil.
Em suas considerações a autora pondera sobre o que apresentou e coloca a
prática do registro como elemento imprescindível para a formação inicial e
contínua dos docentes.
A autora procura
apresentar importância da prática do registro para a construção da memória
coletiva da educação infantil e para a formação docente e para a melhoria da
qualidade do ensino, trazendo as concepções de vários autores renomados acerca
da temática, através do histórico dos registros nas instituições de educação
infantil do Estado de São Paulo e através de seus próprios relatos como
professora atuante das classes de educação infantil.
Sem dúvidas, o registro é
instrumento importante para o trabalho educativo. É ele quem nos faz refletir
sobre nossas concepções de infância e de criança e que se inscrevem na
materialidade do nosso cotidiano. Contudo, a prática do registro como produto
de nossas observações diárias não pode estar pautada apenas em impressões e
análises informais. Fundamentar nossa prática em obras como a aqui apresentada
torna-se importante elemento para a nossa formação e consequente melhoria da
qualidade de ensino.
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