segunda-feira, 19 de março de 2012


Maria Auxiliadora

LOPES, Amanda Cristina Teagno. Educação Infantil e registro de Práticas. Ed. Cortez, 2009.

A obra intitulada Educação Infantil e registro de Práticas, de autoria de Amanda Cristina Teagno Lopes, destinada à formação docente traz um diálogo entre autores que tratam do tema registro. Para tais autores os registros são importantes instrumentos para análise do pensamento do professor, pois ao narrar sua prática o professor expõe seu pensamento, reflete sobre sua prática e busca um sentido para a ação cotidiana em sala de aula integrando seu pessoal e seu profissional em sua narrativa, ainda quando podendo lançar mão de seus registros para analisar seu grupo rever suas ações passa pela subjetividade do professor não se tratando apenas de uma narrativa das ações pedagógicas deste, mas, também, de uma reflexão sobre suas ações. Compreendem que os registros abrangem uma ampla gama de documentos que incluem diários, relatos, portfólios, etc, todavia reconhecem que não se restringirem a eles. Sendo assim, os autores participantes do diálogo em questão tratam das diversas formas com as quais os professores registram seu cotidiano em sala de aula e nos fazem perceber que a narrativa do professor contém em si suas impressões e observações e tornam-se a teorização de sua prática. A autora ainda chama a atenção para o privilégio que os docentes dispensam ao registro escrito, cita as imagens que falam sem utilizar as palavras e nos fazem refletir sobre o desenho como forma privilegiada de expressão das crianças antes da aquisição do código escrito, configurando o desenho como uma forma de registro.
À medida que a autora avança na produção de sua obra, reflete acerca do que contém os registros dos professores que atuam com as crianças pequenas em instituições de educação infantil, considerando que o Referencial Curricular para a Educação Infantil (Brasil/MEC, 1988) reconhecendo as peculariedades da educação de crianças menores de 6 anos aponta a observação e o registro como instrumentos essenciais ao processo de avaliação da aprendizagem e do desenvolvimento, situa o registro como elemento imprescindível ao trabalho com a educação infantil. A autora faz um relato sobre a história da educação infantil tendo como cenário o estado de São Paulo, trazendo aos leitores informações sobre o que pensavam os profissionais da época, suas concepções sobre a infância e a criança e suas formas de registro, enfatizando o caráter assistencialista e recreativo da educação infantil. Na quase inexistência de registros produzidos pelas professoras que atuaram na educação infantil, a autora situou sua análise na Revista do Jardim de Infância e nos boletins internos da Divisão de Educação, Assistência e Recreio e ainda nos relatórios anuais sobre os parques infantis. A referida revista, segundo Gabriel Prestes, visava a “tornar conhecidos os processos empregados em tais instituições de ensino e reunir os elementos artísticos necessários à organização do ensino infantil pelo sistema froebeliano” (revista do Jardim de Infância, 1896, p. 5).
Os relatórios aparecem sob a forma de dados estatísticos e quantitativos direcionados à questão da recreação e da saúde dos educandos. Cabe lembrar que estes eram temas centrais nas propostas das instituições de educação infantil aqui denominados parques infantis.  Os boletins internos destinavam-se a publicações de comunicados, notícias sobre eventos, e acontecimentos, ou seja, à comunicação interna das instituições.   Seguindo em sua narrativa, a autora faz considerações sobre o papel do registro no contexto do movimento escola novista e identifica nesse momento uma maior atenção dirigida à formação de professores onde ao lado das escolas normais são criadas escolas complementares encarregadas da formação de professores. O ideário da época era a educação como alavanca para o progresso da nação. Uma educação pautada no cientificismo sem considerar as impressões e reflexões das profissionais que atuavam na educação infantil. Considerando que os registros são a memória dos que viveram em certa época, não produzí-los ou relega-los a um plano inferior pode representar um hiato na construção da memória coletiva de uma sociedade. Fato que pode estar ligado ao detrimento da figura do professor em relação ao conhecimento cientificamente produzido. A autora apresenta o registro de suas práticas durante o período de 2000 a 2003 e o que observamos é que a prática do registro pode leva-la a analisar, refletir, repensar sua prática cotidiano levando-a um aprimoramento profissional e consequente melhoria da qualidade de seu trabalho junto às crianças da educação infantil. Em suas considerações a autora pondera sobre o que apresentou e coloca a prática do registro como elemento imprescindível para a formação inicial e contínua dos docentes.
A autora procura apresentar importância da prática do registro para a construção da memória coletiva da educação infantil e para a formação docente e para a melhoria da qualidade do ensino, trazendo as concepções de vários autores renomados acerca da temática, através do histórico dos registros nas instituições de educação infantil do Estado de São Paulo e através de seus próprios relatos como professora atuante das classes de educação infantil.
Sem dúvidas, o registro é instrumento importante para o trabalho educativo. É ele quem nos faz refletir sobre nossas concepções de infância e de criança e que se inscrevem na materialidade do nosso cotidiano. Contudo, a prática do registro como produto de nossas observações diárias não pode estar pautada apenas em impressões e análises informais. Fundamentar nossa prática em obras como a aqui apresentada torna-se importante elemento para a nossa formação e consequente melhoria da qualidade de ensino.





















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